A presidenta foi hábil ao desacelerar a economia e demitir funcionários acusados de corrupção Foto: Wilson Dias/ABr
A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, desfruta de um nível
de aprovação extraordinário para uma presidente em seu segundo ano de
governo. Ela é mais popular que seus antecessores eram nessa fase de
seus mandatos, apesar de uma série de escândalos de corrupção e da
crescente oposição de membros de sua própria coalizão multipartidária,
que se frustraram com sua relutância em distribuir suficientes cargos no
governo e favores políticos. Rousseff também tentou realçar seu perfil
no cenário internacional, mas os resultados foram mistos.
A popularidade da presidenta pode ser atribuída a sua hábil condução
de uma desaceleração econômica (à qual seu governo reagiu com uma série
de medidas de estímulo) e sua disposição a investigar e demitir
ministros e assessores acusados de corrupção (seis de seus ministros
renunciaram em seu primeiro ano no cargo). Seus índices de aprovação
estão não apenas no nível mais alto desde que ela tomou posse, em
janeiro de 2011, como também entre os melhores registrados para qualquer
líder eleito democraticamente no mundo.
Segundo uma pesquisa de opinião do instituto Ibope feita em março, o
índice de aprovação de Rousseff ficou em 77%, 5 pontos percentuais a
mais que em dezembro de 2011. Isto se compara com 54% de seu antecessor,
Luiz Inácio Lula da Silva, na mesma fase de sua presidência (15 meses),
e 57% para o presidente anterior, Fernando Henrique Cardoso. O apoio a
Dilma é maior no nordeste (82%), mas também é alto no sudeste (75%),
região que com frequência apoia a oposição. Isso mostra que sua base de
apoio é mais extensa que a de Lula (cujos seguidores se concentravam no
nordeste e entre os eleitores de baixa renda), e também reflete sua
crescente popularidade entre as classes média em expansão, juntamente
com um apoio ainda forte entre os brasileiros mais pobres.
Governo firme mas flexível
Os eleitores parecem aprovar o estilo de governo firme de Rousseff,
incluindo sua atitude decidida em relação ao Congresso. Ela recentemente
conseguiu apagar outra rebelião do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB, de centro) e outros partidos menores de sua ampla
coalizão. Também conseguiu a aprovação no Legislativo de algumas leis
importantes, incluindo a reforma da aposentadoria dos funcionários
públicos (Funpresp) e a Lei da Copa (que fornece a estrutura jurídica
para os próximos jogos da Copa do Mundo de Futebol).
Mas enfrentou alguns reveses. Em 26 de abril os legisladores
aprovaram um polêmico Código Florestal que põe em confronto
ambientalistas e proprietários de terras sem os compromissos que o
governo havia negociado cuidadosamente. Rousseff pode vetar a lei, mas
esse veto pode ser derrubado por uma maioria simples dos legisladores. A
lei atenua as regras destinadas a reduzir o desflorestamento, definindo
a área de terras que os agricultores devem preservar.
De modo geral, porém, Rousseff demonstrou que seu estilo firme não
significa necessariamente um estado de confronto e impasse permanentes
com o Congresso. Ela se mostrou flexível e, quando precisou da aprovação
de projetos específicos (como o do Funpresp), prontamente liberou
algumas verbas para agradar a partidos aliados. As próximas eleições
municipais em outubro de 2012 serão um teste importante da popularidade
de Rousseff e do atual equilíbrio de poder dentro da aliança governante
(especialmente entre o PMDB e o Partido dos Trabalhadores, no governo) e
entre outras forças políticas antes da eleição presidencial de 2014.
Supõe-se de modo geral que Rousseff disputará outro mandato.
Política externa vacilante
As recentes incursões da presidente no cenário internacional também
demonstraram sua firmeza, embora os resultados tenham sido variáveis.
Ela intensificou suas atividades diplomáticas nos últimos meses,
demonstrando um estilo firme em suas negociações com homólogos
estrangeiros, incluindo os Estados Unidos. Em menos de dois meses
Rousseff se reuniu com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com os
líderes de Rússia, Índia, China e África do Sul durante uma cúpula dos
BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) na capital indiana, Nova Déli. Ela
também teve uma reunião separada com o primeiro-ministro indiano,
Manmohan Singh, antes de se encontrar com o presidente norte-americano,
Barack Obama, em Washington e participar da Cúpula das Américas na
Colômbia em meados de abril.
Essas viagens ajudaram a elevar o perfil de Rousseff no plano
internacional, mas não fizeram avançar de modo substancial as metas de
política externa do Brasil. A começar pela visita aos EUA: Rousseff
conseguiu incluir nas discussões a suspensão de um contrato militar que a
Embraer (fabricante de brasileira de aviões) havia ganho com a Força
Aérea dos EUA, e que mais tarde foi cancelado, exigindo que os EUA o
honre. No entanto, a questão mais importante — o desejo do Brasil de ter
um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (um objetivo da
política externa do país há pelo menos duas décadas) — quase não foi
mencionada. Rousseff não foi recebida como chefe de Estado e não recebeu
o mesmo apoio que Obama deu ao primeiro-ministro indiano, que também
quer um lugar no Conselho de Segurança.
Além disso, os repetidos ataques de Rousseff à “guerra monetária”
causam incômodo na Europa e nos EUA há algum tempo, e o fato de ela ter
insistido na questão durante suas reuniões com Merkel e Obama (assim
como na Cúpula das Américas, mais tarde) causou certa irritação,
especialmente na Alemanha. O fato de o Brasil culpar os países
desenvolvidos pela guerra monetária, mas evitar cuidadosamente qualquer
crítica à China (hoje o principal parceiro comercial do Brasil), não
ajuda o argumento de Rousseff.
Com relação ao esforço do Brasil para consolidar sua liderança entre
as economias emergentes, iniciativas como o comércio em moedas locais
(descartando o dólar americano) ou a criação de um banco de
desenvolvimento entre as economias dos BRICs (que funcionaria como um
contrapeso ao Banco Mundial) têm pouca probabilidade de avançar em curto
e médio prazo. O Brasil e outros países em desenvolvimento não
conseguiram chegar a um acordo sobre um candidato comum para a
presidência do Banco Mundial como alternativa ao candidato dos EUA, que
afinal conseguiu o cargo.
Fonte: Carta Capital
0 comentários:
Postar um comentário
Seu comentário será publicado assim que verificado pela moderação do blog.