sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Roubini, no Rio, prevê que economia mundial ainda está longe da recuperação

 Roubini está em visita ao Rio e divulgou artigo sobre a economia mundial
De passagem para o carnaval, no Rio, em um giro que inclui ainda uma série de encontros nas esferas política e econômica, o economista Nouriel Roubini – autor das previsões acerca da crise mundial do capitalismo – divulgou, nesta quinta-feira, um artigo no qual assinala o risco de um severo aprofundamento da recessão na Europa. No texto, Roubini afirma que “a zona do euro está em recessão profunda, especialmente na periferia, mas agora também nas economias centrais, como os dados mais recentes mostram uma contração da produção na Alemanha e na França. A escassez de crédito no sistema bancário está se tornando mais grave como desalavancagem dos bancos com a venda de ativos e racionamento de crédito, agravando a recessão”.
“Desde o ano passado, uma série de dados positivos aumentou a confiança dos investidores e levou a um forte rali aos ativos de risco, começando com ações globais e de commodities. Vetores macroeconômicos dos Estados Unidos melhoraram; empresas blue-chip em economias avançadas permaneceram altamente rentáveis; a China e os mercados emergentes desaceleraram de forma moderada e o risco de um padrão desordenado e/ou a saída de alguns membros da zona do euro diminuiu”, acrescenta.
Ainda segundo Roubini, “sob seu novo presidente, Mario Draghi, o Banco Central Europeu parece disposto a fazer qualquer coisa necessária para reduzir o estresse no sistema bancário da zona do euro e governos, bem como promover taxas de juros mais baixas. Os bancos centrais em ambas as economias, avançadas e emergentes, aplicam injeções maciças de liquidez. A volatilidade é baixa, a confiança está em alta e a aversão ao risco é muito menor – por agora”.
Roubini alerta, porém, que há “quatro riscos de deterioração susceptíveis de se materializar este ano, minando o crescimento global e, eventualmente, afetando negativamente a confiança dos investidores e as avaliações de mercado de ativos de risco”, sendo o primeiro a recessão europeia.
“Enquanto isso, não é só a austeridade fiscal que empurra a periferia da zona do euro para a queda livre econômica, mas a perda de competitividade irá persistir”, acrescenta. Para restaurar a competitividade eo crescimento desses países, diz o economista, “o euro deve cair para paridade com o dólar dos EUA”. E, enquanto o risco de um colapso desordenado grego está agora se afastando, ele vai ressurgir ainda este ano como instabilidade política, conflitos civis, e mais austeridade fiscal que tendem a transformar a recessão em uma depressão grega”.
O enfraquecimento das economias asiáticas é outro ponto de risco apontado por Roubini. “Na China, a desaceleração econômica em curso é inconfundível. O crescimento das exportações reduz-se, drasticamente, passando a ser negativo vis-à-vis a periferia da zona do euro. O crescimento das importações, sinal de futuras exportações, também caiu. Da mesma forma, o investimento residencial chinês e atividade comercial no setor imobiliário têm diminuído drasticamente à medida que os preços das casas começam a cair. O investimento em infraestrutura é baixo, bem como, com muitos projetos para implantação dos trens de alta velocidade na lista de espera, os governos locais e agências de desenvolvimento lutam para obter financiamento em meio a condições aperto ao crédito e menores receitas de vendas de terras”, acrescentou.
“Na Ásia, a economia de Cingapura recuou pela segunda vez em três semestres, no final de 2011. O governo da Índia prevê 6,9% de crescimento anual do PIB em 2012, o que seria a menor taxa desde 2009. A economia de Taiwan entrou em recessão técnica no quarto trimestre de 2011. Economia da Coréia do Sul cresceu a uma taxa de meros 0,4% no mesmo período – o ritmo mais lento em dois anos – enquanto o PIB do Japão contraiu a um além do que o esperada de 2,3%, como a força do iene empurrando para baixo as exportações” afirma.
Roubini aponta, no entanto, uma reação da economia norte-americana: “Os dados norte-americanos têm sido surpreendentemente encorajadores, o impulso de crescimento da América (do Norte) parece estar chegando. O aperto fiscal, porém, vai aumentar entre 2012 e 2013, contribuindo para uma desaceleração, assim como a validade dos benefícios fiscais que aumentaram os gastos de capital em 2011. Além disso, devido ao mal-estar contínuo nos mercados de crédito e habitação, o consumo privado continuará a ser subjugado, na verdade, a dois pontos percentuais da expansão de 2,8% no último trimestre de 2011, fica evidente o reflexo de que os estoques estão crescentes, em vez de as vendas finais. E, como para a procura externa o dólar geralmente se mantém forte, juntamente com a desaceleração global e da zona do euro, a tendência é de enfraquecimento das exportações dos EUA, enquanto os preços ainda elevados do petróleo aumentarão a conta de importação de energia para inibir ainda mais o crescimento”.
O economista, que é presidente da Roubini Global Economics, professor de Economia na Stern School of Business, da New York University e co-autor do livro Crise da Economia, alerta que “os riscos geopolíticos no Oriente Médio estão aumentando, devido à possibilidade de uma resposta militar israelense para as ambições nucleares iranianas. Embora o risco de conflito armado continue a ser baixa, a atual guerra de palavras é crescente, como é a guerra secreta em que Israel e os EUA estão comprometidos com o Irã, e este também está de volta com ataques terroristas contra diplomatas israelenses. A República Islâmica, de costas para a parede, mordida pelas sanções, também poderia reagir e afundar alguns navios para bloquear o Estreito de Ormuz, ou com o envolvimento de seus aliados na região, como os xiitas pró-iranianos no Iraque, no Bahrain, Kuwait, e Arábia Saudita, bem como o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza”.
“Além disso, há mais amplas tensões geopolíticas no Oriente Médio que não vai facilitar – e que pode se intensificar. A Primavera árabe produziu um resultado relativamente favorável na Tunísia, onde ela começou, mas a evolução no Egito, Líbia e Iêmen continuam a ser muito mais incerto, enquanto a Síria está à beira da guerra civil. Além disso, existem fortes receios sobre a estabilidade política no Bahrein e rico em petróleo da Arábia Saudita Província Oriental, e potencialmente até mesmo no Kuwait e Jordânia – todas as áreas com Shia substancial ou outras populações inquietas.
O professor Roubini também lembra que “o aumento das tensões entre xiitas, curdos e facções sunitas no Iraque desde a retirada dos EUA não anuncia nada de bom para um aumento na produção de petróleo. Há também o conflito entre israelenses e palestinos, bem como tensões entre Israel e Turquia. Em outras palavras, há muitas coisas que poderia dar errado no Oriente Médio, qualquer combinação de medo que pode atiçar nos mercados e aumentar os preços já excessivamente elevados do petróleo. Apesar do fraco crescimento econômico nos países desenvolvidos e um abrandamento em muitos mercados emergentes, o petróleo já está em torno de US$ 100 por barril. Mas o medo poderia empurrá-lo a um patamar significativamente mais alto, com previsíveis efeitos negativos sobre a economia global”.
“Com tantos riscos em tantos lugares, investidores, de forma não surpreendente, vão buscar liquidez em suas carteiras, evitando ativos mais arriscados e imobilizando seus ativos novamente quando esses riscos se materializarem. Essa é mais uma razão para acreditar que a economia global está longe de alcançar uma recuperação equilibrada e sustentável”, concluiu Roubini.

Fonte: Agência Brasil

0 comentários:

Postar um comentário

Seu comentário será publicado assim que verificado pela moderação do blog.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Laundry Detergent Coupons