terça-feira, 19 de julho de 2011

China e as guerras pela competitividade


Por Marcos Troyjo
 
Aumentam nos EUA vozes contra a maneira com que a China mantém baixa a cotação de sua moeda. Busca disseminar-se a visão de que este é o principal diferencial competitivo chinês na economia global.
Culpar a moeda chinesa pela perda de empregos e negócios em território americano é discurso de natureza político-eleitoral. A fraqueza do dólar, e não do renminbi, é capaz de provocar desequilíbrios sistêmicos.
Mais que “Guerras Cambiais”, hoje travam-se “Guerras de Competitividade”. Nelas, batalhas cambiais são acessórias, não decisivas.
O cerne da hipercompetitividade chinesa reside nas PPPs como mola propulsora de exportações e atração de IEDs. Na baixa remuneração dos fatores de produção. Na elevada taxa de poupança interna e investimento, a quase 50% do PIB. Na intensa diplomacia empresarial.
Os EUA querem aliados na crítica ao câmbio chinês. Em fóruns multilaterais, buscam o endosso brasileiro.
Seria errado qualificar quaisquer críticas brasileiras (que são crescentes) às políticas econômicas da China como simplesmente uma forma de "compartilhar a visão dos EUA", essencialmente centrada no câmbio. O Brasil tem preocupações próprias quanto à sua “desindustrialização.
Muitas empresas brasileiras escolhem a China não só como plataforma para exportação a terceiros países. Têm também olhos voltados ao mercado doméstico chinês. Isso é cada vez mais problemático na medida em que a China intensifica sua política de "conteúdo local" para bens produzidos por empresas estrangeiras na China, em vez de simplesmente comprá-los de suas matrizes no exterior.
Empatias (e antipatias em relação aos EUA) podem ter desempenhado algum papel no crescimento recente do intercâmbio Brasil-China. Predileções ideológicas parecem menos importantes no governo Dilma. No entanto, o fato da China ultrapassar os EUA como principal parceiro comercial e fonte de IED do Brasil se explica por três fatores:
- Os EUA não perseguiram seus interesses no Brasil tão ativamente como deveriam no pós-11 de Setembro. Washington não atentou à excelente descrição do potencial brasileiro feita pelo Council on Foreign Relations em fevereiro de 2001 no “Memorando sobre a Política dos EUA para o Brasil” (www.cfr.org/brazil/letter- president-memorandum-us-policy-toward-brazil/p3900)
- O apetite da China por commodities (agrícolas e minerais) brasileiras amplia-se a logística, infraestrutura, aviões, etc.
- A boa vontade mútua gerada pela disposição brasileira em reconhecer a China como "economia de mercado" (não formalizada até hoje) em troca do apoio chinês ao pleito do Brasil para tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança da ONU (tampouco formalizado) e a abertura do mercado chinês para exportações brasileiras de proteína animal.
Empresários brasileiros, seriamente preocupados com a "inundação" de produtos chineses no mercado brasileiro, são menos lamuriosos da política cambial da China. Criticam, correta e enfaticamente, nossa defasada infraestrutura e legislação trabalhista e fiscal. Fatores que, agregados à ausência de uma estratégia de nação comerciante, prejudicam mais nossa competitividade internacional do que embates cambiais.

Marcos Troyjo é Presidente da Wisekey-Brasil e doutor em sociologia das relações internacionais pela USP. E-mail:troyjo@post.havard.edu
Fonte: Brasil Econômico. Publicado em 05/07/2011

Disponível em: Portal Mundo Relações Internacionais

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