A
deputada Bernadete ten Caten (PT-Pa) convocou todos os deputados da Assembleia
Legislativa a assinarem requerimento a ser enviado à Agência Nacional de
Energia Elétrica – ANEEL se posicionando contra qualquer possibilidade de
aumento na tarifa de energia elétrica no Estado do Pará em favor da Centrais
Elétricas do Pará, empresa que quebrou o contrato na prestação de serviço para
a população paraense. A empresa se encontra em recuperação judicial, com uma
dívida altíssima junto aos governos Federal e Estadual, população, fornecedores
e terceirizadas, já que foi dilapidada em seu patrimônio financeiro, pelo Grupo
Rede, para socorrer outras empresas de energia do eixo sul e sudeste do país.
Hoje,
a Celpa cobra por serviços que não presta com a devida qualidade e eficiência
e, no momento em que ocorre uma audiência pública entre o Ministério Público,
Aneel e a empresa, o que acontece é que é aventada a possibilidade de um
aumento de quase 7%. “Nós, deputados paraenses, temos que tomar uma
providência, tomar uma posição. Não podemos deixar que mais uma vez a nossa
população seja prejudicada e venha pagar a conta que não fez”, disse a
parlamentar enquanto apresentava o requerimento na tribuna da ALEPA, por
ocasião do grande expediente, ontem. Abaixo, na íntegra, o requerimento
encaminhado à ANEEL pelos deputados paraenses:
REQUERIMENTO
Requer a ANEEL que não aprove
o aumento da tarifa de energia elétrica no Estado do Pará
O Estado do
Pará já possui hoje uma das tarifas de energia elétrica mais caras do Brasil,
tendo a segunda maior hidrelétrica geradora de energia. Estados que compram
energia do Pará, a fornecem a preço inferior que a Rede Celpa.
Se a ANEEL
procede à revisão tarifária em média a cada quatro anos, ela parece, neste
momento, ignorar o que acontece com o consumidor paraense que, em grande parte
sofre reajustes todos os meses no talão sem que tenha havido aumento algum no
consumo. Não são casos isolados; acontece com milhares de consumidores, talvez
com a maioria, de tal sorte que as famílias mais empobrecidas do estado não
conseguem mais pagar o talão e acabam entrando no chamado “gato”; residências
que ficam um ou dois meses fechadas, recebem talão com cobrança como se tivesse
havido consumo; residências rurais recebem o talão urbano, com cobrança de
iluminação pública; não há lógica alguma nos valores cobrados pela
distribuidora: residências rurais que em geral possuem apenas três lâmpadas,
uma geladeira e uma TV, recebem cobranças que variam de R$ 80 a R$ 400, mesmo contendo os mesmos itens
consumidores. Como vir agora estipular aumento da tarifa? Isso sem falar na
péssima qualidade do fornecimento: municípios do interior do estado sofrem
oscilações, quedas de energia, que chegam a 20 vezes por dia, provocando perda
de eletrodomésticos e produtos; é comum a energia faltar, frequentemente, por
cinco a sete dias consecutivos. A ANEEL parece desconhecer totalmente a
problemática da energia elétrica do estado do Pará quando fala em reajuste de
tarifa.
O cobrado
já é injusto, exorbitante, com serviço de má qualidade e péssimo atendimento ao
consumidor quando em busca de socorro: a prova está em a Rede Celpa ser a
distribuidora campeã em denúncias de prática de irregularidades, abusos e
crimes diante da Lei do Direito do Consumidor. Como então estipular aumento da
tarifa?
Não é justo
o consumidor paraense pagar a dívida contraída pela Centrais Elétricas do Pará
em razão de má gestão e de desvios de recursos da empresa para salvar outras
unidades localizadas no Sul e Sudeste do Brasil da Holding do Grupo Rede. Esta
Casa já se manifestou pela federalização do serviço de distribuição de energia
elétrica, dado que a Celpa se encontra em processo de recuperação judicial,
cujos resultados não sabemos quais serão e quando serão divulgados.
Foi na
semana passada que o povo paraense foi tomado de surpresa, quando, na reunião
entre a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Celpa, consumidores e
entidades ligadas ao setor foi dada a largada para o próximo aumento da tarifa
da energia elétrica no Pará. A reunião, realizada no auditório do Instituto de
Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Pará, apontou 6,70% como base de
reajuste, podendo chegar a 12%.
Apesar do
debate ter sido pautado pelo reajuste da tarifa, grande parte das manifestações
dos participantes remeteram à saraivada de problemas da Celpa, em situação de
recuperação jurídica. O promotor de Justiça e representante do Ministério
Público do Estado do Pará no evento, Sávio Brabo, atualizou as informações
sobre o imbróglio judicial envolvendo a concessionária. Brabo chamou a atenção
para o dia 9 de julho, quando ocorrerá a primeira audiência com os credores da
Celpa. Os mais de 500, entre bancos, empresas e pessoas físicas, vão dizer se o
plano de recuperação institucional e financeira da concessionária é aceitável.
Caso a resposta seja negativa, é o começo do que deve culminar com o pedido de
falência da fornecedora de energia elétrica privatizada em 1998.
Segundo
dados oficiais, a Celpa deve cerca de R$ 3 bilhões.'Diante dos serviços
precários, da falta de qualidade e da situação de recuperação jurídica, fica
muito complicado se falar de aumento', assinalou o promotor do Ministério
Público na Audiência do dia 14.
O diretor
da Aneel afirmou que os serviços da Celpa estão sendo avaliados pela agência e
as constatações de deficiência para atender os limites mínimos de qualidade
podem levar à 'caducidade' da concessão, ou seja, a empresa Celpa pode perder o
direito de explorar o fornecimento de energia. Uma reunião no dia 7 de agosto
entre os executivos da concessionária e da Agência reguladora vai analisar o
plano para estabelecer a qualidade de serviços elaborado pela empresa. A
situação é complicada, como informam as cifras de indenização aos consumidores
pelo mau serviço: em 2010, foram pagos R$ 82 milhões em indenizações e, no ano
seguinte, R$ 88 milhões. De 2000
a 2011,
a Celpa pagou mais de R$ 100 milhões multas para Aneel,
também por prestação de atendimento deficiente.
Outra
situação estarrecedora que chega à tona agora é o governo do Pará estar a pagar
uma dívida da empresa com a União. O governo federal, por meio do Banco do
Brasil, debitou em abril R$
2,6 milhões da conta do Estado do Pará. Os recursos são oriundos do Fundo de
Participação dos Estados (FPE). O valor é proporcional a uma parcela da dívida
da Celpa com a União, da qual o governo paraense é avalista.
O pagamento
é relativo a um contrato de confissão e consolidação de dívida assinado em 1997
(seis meses antes da privatização da Celpa) entre a Controladoria Geral da
União (CGU) e a empresa. O Estado do Pará, representado na época pelo
ex-governador Almir Gabriel e pelo ex-secretário de Fazenda Paulo de Tarso,
aparece como avalista do contrato, de R$ 44 milhões. Os recursos, viabilizados
pelo Banco do Brasil, são provenientes do Clube de Paris.
Com o
pedido de recuperação judicial solicitado pela Celpa em 28 de fevereiro, a
distribuidora deixou de pagar os seus credores, para equalizar sua situação
financeira e não prejudicar suas operações. O Banco do Brasil, no entanto,
acionou o Estado do Pará, fiador da dívida em questão. Em outras
palavras, o povo paraense está pagando a dívida.
Importante
ressaltar que o próprio Governo Federal estuda forma de redução de preço da
energia no país. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que está
estudando essa redução por meio de desoneração de impostos do setor enérgico,
ato que soma a outros argumentos contra o aumento em nosso estado.
Diante do
exposto, os deputados e deputadas desta Casa não podem silenciar diante dessa
ameaça de aumento de tarifa no estado do Pará, conforme anunciado pela ANEEL.
Precisamos, ao contrário, rever a tarifa ou os impostos embutidos no talão,
diminuindo-os, afim de que este serviço essencial à qualidade de vida possa
estar ao alcance de todos com qualidade e preço módico conforme diz a Lei.
A Assembléia
Legislativa do Estado do Pará, através de seus deputados e suas deputadas, deve
se posicionar publicamente, através deste Requerimento, que se constituir em um
verdadeiro “Manifesto contra o aumento
da tarifa de energia no Pará”.
Diante do
exposto, nos termo do art. 180 do Regimento Interno, requer a ANAEEL – Agência
Nacional de Energia Elétrica, que não aprove o aumento de energia elétrica no
Estado do Pará.
Palácio
Cabanagem, 20 de junho de 2012
Deputada
Bernadate ten Caten
Partido dos Trabalhadores - PA
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