Para Basileu Margarido, se os indicadores de meio ambiente fossem incluídos na classificação do IDH, o Brasil teria tudo para melhorar sua posição no ranking.
Desafio: como conciliar desenvolvimento com preservação do meio-ambiente
“A sociedade brasileira começa a ter uma maior consciência ambiental, mas ainda não damos a devida atenção para a importância de se manter a floresta em pé"
O Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) 2011, divulgado na manhã desta quarta-feira, propõe um desafio à humanidade: elevar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) sem agredir o meio ambiente. A tarefa se torna ainda mais difícil para os países em desenvolvimento, como o Brasil, uma vez que,como confirma o relatório, a elevação do IDH é acompanhada por um aumento significativo das emissões de dióxido de carbono (CO2) – o gás carbônico, principal poluente do chamado efeito estufa.
“Embora os países classificados como de ‘desenvolvimento muito alto’ sejam os principais responsáveis pela emissão de gás carbônico na atmosfera, os de “desenvolvimento alto’, entre eles o Brasil, começam a ter uma importância maior com relação aos poluentes”, explica Basileu Margarido, diretor do Instituto de Desenvolvimento e Sustentabilidade e ex-presidente do Ibama. “Apesar disso, não é correto que as exigências ambientais para esses dois grupos sejam as mesmas. Isso porque, os países em desenvolvimento têm um consumo per capita de energia 3,5% menor que os países de renda mais alta. Ou seja, a responsabilidade deles com relação a degradação ambiental ainda é bem menor”.
Para Basileu, se os indicadores de meio ambiente fossem somados aos de renda, educação e saúde na classificação do IDH, o Brasil teria tudo para melhorar a posição no ranking (o país ocupa hoje a 84ª posição entre 187 países). “Temos uma cobertura florestal invejável e uma matriz energética favorável”, afirma, citando o etanol e as hidrelétricas. “Nosso maior pecado está na área de saneamento básico”.
Segundo o relatório, a América Latina tomou, a partir de 2005, uma série de medidas para enfrentar o desmatamento e outras ameaças ambientais. O documento menciona como exemplo a taxa de desmatamento anual na floresta Amazônica brasileira, que diminuiu 70% de 2005 a 2009. “O desmatamento com certeza diminuiu, mas ele ainda é assustador”, adverte Gustavo Souto Maior, professor do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília (UnB). “A sociedade brasileira começa a ter uma maior consciência ambiental, mas ainda não damos a devida atenção para a importância de se manter a floresta em pé”.
O futuro - As simulações realizadas para o relatório do Pnud sugerem que, levando-se em consideração os efeitos adversos do aquecimento global na produção agrícola, no acesso à água potável e melhor saneamento e na poluição, em 2050, o IDH da maioria dos países será 8% inferior ao deste ano – 12% inferior no sul da Ásia e na África Subsariana. Outra previsão é que os fatores ambientais adversos provoquem um aumento no preço dos produtos alimentícios em 30% a 50% nas próximas décadas.
Utilizando métodos que a pesquisa classifica como “quase experimentais”, foram identificadas algumas relações entre desigualdade e problemas ambientais. Um exemplo é a descoberta de que níveis mais elevados de desigualdade de gênero correspondem a patamares mais baixos de sustentabilidade. Da mesma forma, o desmatamento e a poluição levam a piores índices de IDH – uma vez que metade da subnutrição mundial é atribuível a fatores ambientais.
Sobre esse aspecto, o relatório aponta três conclusões: que as privações ambientais, como o acesso inadequado à água potável e melhor saneamento são maiores em países com menor IDH; que os riscos ambientais com efeitos globais – as emissões de gás carbônico, por exemplo – aumentam ao mesmo tempo em que cresce o IDH; e que as curvas entre o IDH e a poluição urbana e da água, são em U invertido. Ou seja, à medida que o desenvolvimento aumenta, a degradação ambiental piora gradativamente. Contudo, chega um momento em que a alta do IDH tem como contrapartida a melhoria destes desses indicadores. Isso pode significar que, conforme os países enriquecem, os governos passam a ser pressionados por suas populações a oferecerem ambientes mais limpos e saudáveis.
“Os brasileiros têm um grau de sensibilidade ambiental particularmente elevado”, acredita Basileu. “O que faltam são políticas públicas efetivas. Isoladas, as atitudes individuais do cidadão são como uma gota no oceano”. De acordo com ele, é necessário que exista a soma entre o público e o privado. “Seria interessante, por exemplo, a desoneração de tributos para produtos ecologicamente corretos”, sugere. “O preço diminuiria e as pessoas consequentemente comprariam mais”. Para Basileu, isso faria com que elas naturalmente optassem por esses produtos.
Fonte :Veja.com
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