Enquanto o Palácio do
Planalto se concentra na aprovação das mudanças propostas pela
presidente Dilma Rousseff ao Código Florestal, a bancada ruralista já
iniciou articulações com deputados e senadores de diversos Estados em
torno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 190/2012 que altera a
Lei Kandir. A lei trata do ressarcimento do ICMS de mercadorias
destinadas a exportação.
O objetivo é garantir
que o governo repasse 40% dos impostos de importação para os Estados
exportadores de produtos básicos. Desde a criação da lei, em 1996, o
governo descumpre os repasses determinados. O montante definido na PEC,
em 2011, teria sido de R$ 10,7 bilhões, que seriam distribuídos aos 26
Estados e o DF.
Até 2003, a Lei Kandir
garantia aos Estados o repasse de valores a título de compensação pelas
perdas decorrentes da isenção de ICMS. Porém, a partir de 2004, uma lei
complementar alterou essa legislação. Embora mantendo o repasse, deixou
de fixar o valor. Com isso, os governadores passaram a negociar ano a
ano com o Executivo quanto seria destinado e ficaram reféns do Orçamento
Geral da União.
No ano passado, o
governo pagou aos Estados apenas R$ 3,9 bilhões dos R$ 22,6 bilhões
arrecadados com o ICMS de produtos primários exportados. Esse valor tem
sido constante nos últimos anos, com uma leve alta em 2008. A previsão
para 2012, de acordo com a secretaria de Fazenda do Estado do Mato
Grosso, é de R$ 29 bilhões.
A PEC, protocolada no
dia 13 de junho pelo deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), conta com amplo
apoio no Congresso. Mesmo com 240 parlamentares, a bancada ruralista
está pedindo apoio a congressistas de Estados e pontos de vista
diferentes como, por exemplo, o Pará, que exporta grande quantidade de
minerais. “Hoje existe um conflito que se repete todos os anos em torno
do ressarcimento das perdas dos Estados exportadores em face da
desoneração que a União fez sobre as commodities agrícolas para elevar o
superávit comercial”, disse Mabel.
No ano passado, somente o
Estado de São Paulo teria o direito de receber o equivalente à
construção do Rodoanel, R$ 4,8 bilhões, mas só recebeu R$ 837 milhões.
Minas Gerais recebeu, também em 2011, R$ 601 milhões dos R$ 3,5 bilhões a
que tinha direito. O Mato Grosso, maior produtor de grãos do Brasil,
recebeu no mesmo período, R$ 325 milhões do R$ 1,8 bilhão ao qual tinha
direito. “Essa pequena parte não paga nem mesmo o ICMS que devolvemos ao
produtor que compra máquinas em outro Estado”, disse o
secretário-adjunto de Receita Pública da Secretaria da Fazenda de Mato
Grosso (Sefaz-MT), Marcel Souza de Cursi.
Essa “falha”, segundo
Cursi, prejudica o próprio setor produtivo, pois o governo fica sem
recursos para investir em melhorias para a produção. “No caso da PEC, o
texto deixa claro que os recursos devem ser investidos em
infraestrutura. Isso vai ajudar a asfaltar estradas e melhorar o
escoamento do produto, reduzindo o preço e aumentando a competitividade
da produção”, disse Cursi.
Por Tarso Veloso | De Brasília
Fonte: Valor Econômico
0 comentários:
Postar um comentário
Seu comentário será publicado assim que verificado pela moderação do blog.